Economia e Negócios

Mudança de presidente da Petrobras será inócua para controlar os preços; leia análise

Foto: ReproduçãoMudança de presidente da Petrobras será inócua para controlar os preços; leia análise
Mudança de presidente da Petrobras será inócua para controlar os preços; leia análise

A renúncia do presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, abre espaço para a chegada do novo indicado pelo governo, Caio Paes de Andrade, atual secretário de Desburocratização do Ministério da Economia. Será o quarto comandante da estatal nos poucos mais de três anos do governo Jair Bolsonaro. E a única certeza que vem dessa troca é que os preços do combustível continuarão altos como estão. Será, mais uma vez, uma medida inócua.

Nunca é demais lembrar que o preço dos combustíveis está alto por conta da conjuntura internacional. O preço do petróleo em todo o mundo disparou com a demanda maior após o fim dos lockdowns provocados pela covid-19, e ganhou ainda mais fôlego com a guerra na Ucrânia. Os preços da Petrobrás estão atrelados ao mercado internacional, uma medida tomada em 2016 para blindar a empresa das ingerências do governo, que levaram a perdas bilionárias durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.

O que o governo tenta fazer agora é exatamente isso: influenciar nos preços da Petrobras, porque a alta dos combustíveis se tornou um problema às vésperas das eleições. Já houve pedidos recentes para que a estatal congelasse os preços por um longo período de tempo. Os argumentos são sempre os mesmos, os de que a companhia tem registrado lucros recordes e precisa dar sua contribuição em um momento em que a população sofre com os preços altos.

É inegável que a empresa tem tido lucros astronômicos. Mas era o que seria mesmo de se esperar em um momento em que os preços subiram de forma exorbitante. Se fosse o contrário, aí sim seria um grave problema. Mostraria uma empresas extremamente mal administrada.

E quem é o principal beneficiário desse lucro? Ora, o próprio governo, que é o maior acionista da estatal. Boa parte desses ganhos vai para os cofres da União. Desde o início da gestão Bolsonaro, em 2019, o governo já recebeu R$ 447 bilhões da estatal, entre impostos, royalties e dividendos.

Nesta segunda-feira, 20, a União recebe mais uma parcela, de R$ 8,8 bilhões, do lucro da estatal. Essa cifra faz parte de um total de R$ 32 bilhões apenas em dividendos que serão pagos até julho ao governo.

Se o problema é o lucro da Petrobras, o que o governo deveria fazer é usar esses recursos, de alguma forma, para subsidiar os gastos dos mais pobres, ou de quem usa o combustível para trabalhar. Interferir na administração da empresa, tentar mudar a forma como a empresa é administrada, tentar segurar preços, não dará certo. A experiência já nos mostrou, inúmeras vezes, que, quando são usadas de forma meramente política, o caminho das estatais é apenas o buraco.

Fonte: Estadão