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"Há estratégia por trás de ataques a jornalistas no Brasil"

Foto: Reprodução/Fenaj
"Há o recrudescimento de uma situação grave de corrupção, violência e influência das milícias”

Diretor da Repórteres Sem Fronteiras identifica uma cadeia de ação estruturada contra jornalistas, encabeçada por Bolsonaro. Em meio à pandemia, presidente tenta responsabilizar jornalistas pelo caos no país, afirma.O Brasil caiu quatro posições no último ranking de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), referente a 2020. Foi o quarto ano consecutivo de queda. Na 111ª colocação, o país entrou na “zona vermelha”, que caracteriza um cenário difícil para a atuação jornalística, ao lado de países como Afeganistão, Emirados Árabes Unidos e Guatemala.

Em entrevista à DW Brasil, o diretor da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié, afirma haver uma estratégia estruturada de ataques a jornalistas no país. Ele identifica uma cadeia de atuação que vai do presidente Jair Bolsonaro à sua base de apoiadores e cria um “ambiente tóxico” para a atuação dos profissionais de imprensa.

“O presidente está tentando dizer que os jornalistas são responsáveis pelo caos do país”, afirma. “Ele quer esconder a sua incapacidade de lidar com a crise sanitária dizendo que é culpa dos jornalistas. Muita gente acredita nisso. Não à toa, vemos muitos ataques a jornalistas nos protestos e linchamentos digitais, principalmente contra mulheres.”

Colombié ressalta que em meio à pandemia, o trabalho da imprensa se tornar ainda mais importante. “No momento de crise sanitária, o direito de ser informado e informar é tão importante quanto o direito à saúde, pois a informação pode salvar vidas. Com um presidente que espalha mentiras e desinformação sobre a crise, o trabalho dos jornalistas se tornou ainda mais importante. É vital.”

O diretor da RSF chama atenção para a existência de um quadro estrutural de violência contra profissionais da informação no país. Nos últimos dez anos, o Brasil registrou 664 assassinatos de jornalistas e comunicadores. O número só não é superior ao observado no México.

Colombié destaca que profissionais que atuam em nível local, sobretudo radialistas, são os principais alvos, por denunciarem a atuação de grupos criminosos e casos de corrupção, sem contar com a mesma visibilidade de jornalistas da grande imprensa. “Há o recrudescimento de uma situação grave de corrupção, violência e influência das milícias”, observa.

Fonte: Revista Planeta