Política
Ciro Nogueira é reeleito e tem chance de se torna o novo ACM do Piauí
Senador do Piauí sai da eleição com a chance de se tornar como o líder baiano
Ser um ACM não é replicar a personalidade e ou a estatura e a dimensão política do grande líder baiano António Carlos Magalhães. Ser um "ACM" é ser algo que pouquíssimos líderes conseguem em qualquer lugar do mundo, em qualquer tempo: transformar-se em defensor de seus povos. O senador Ciro Nogueira sai destas eleições com a chance histórica de se tornar numa espécie de ACM do Piauí.
Ciro conseguiu reunir em torno de si um arco amplo de alianças, de todos os matizes. Conquistou sua reeleição pela força de seu trabalho, pelas entregas de sua atividade parlamentar, em termos de benefícios concretos, obras, verbas, para todos os municípios do estado. Essa é uma das características fundamentais de ser um ACM: ser um polo irresistível de atração de apoio político no estado e, ao mesmo tempo, um poderoso canal para obter verbas federais para sua unidade da federação.
ACM dominou a política baiana por mais de três décadas por saber exercer esse duplo papel: um imã de apoio político dentro do estado e, simultaneamente, a mais eficaz barreira ou vazante de verbas federais para a Bahia, a depender da afinidade das lideranças (submissão, alinhamento) à sua inconteste liderança.
Essa dupla condição confere a políticos assim um patamar quase mitológico no imaginário da população. ACM mandou na Bahia tendo ou não mandatos. Como ministro das Comunicações no governo Sarney, era ele quem definia quem iria ou não receber as migalhas federais - ou banquetes. Como governador, mandou com o chicote na mão. Fez e refez governadores criados pelo seu toque de ‘Midas’ eleitoral.
Tudo isso porque os baianos viam em ACM muito mais do que um político e, por isso, ter ou não um mandato não o fazia maior ou menor, embora quase sempre ele tenha tido. Na prática, ACM era a voz da Bahia perante o Brasil. Ninguém tocava na Bahia sem despertar a ira e a vingança do velho coronel. E todos os temiam, dentro e fora do estado. E, assim, ele era um protetor dos baianos. Até hoje, mais de uma década depois de sua morte, o aeroporto da capital leva o nome de seu filho, Luís Eduardo. Seu neto, que possui suas iniciais, governa a capital há seis anos.
Claro, Ciro Nogueira está ainda longe de criar a aura e a mística de um ACM. Mas sua vitória neste domingo (07/10) foi um grande salto nessa direção. Ciro tem tudo para se transformar em algo muito maior do que um senador ou detentor de mandato: pode se firmar como o grande protetor do Piauí. Mas há um alerta sobre essa receita: o ACM, original, acabou criando inimigos inúteis, caiu na tentação de rompantes, perseguiu sem necessidade e acabou criando o “anti-cartismo”, uma força também poderosa.
Que o candidato a ACM do Piauí aprenda com as lições da história e reproduza apenas o que o molde original tinha de admirável e excepcional: sua capacidade de agregar forças, de simbolizar poder e de fazer essa força e esse poder funcionarem em favor dos cidadãos do seu estado.
Fonte: 180 graus