Geral

Streamer sofre racismo, intolerância religiosa e recebe ameaças

Ana Beatriz “Preta” foi ameaçada por grupo anônimo durante live; mãe e desempregada, a streamer quer ser jogadora profissional e está em busca de organização
Foto: InstagramJogadora de LoL e taróloga, Ana Beatriz
Jogadora de LoL e taróloga, Ana Beatriz "Preta" foi vítima de racismo e intolerância religiosa na Twitch

A streamer Ana Beatriz “Preta” foi vítima de racismo e intolerância religiosa durante live na Twitch, plataforma de streaming. Os ataques foram coordenados por um grupo anônimo, que invadiu a transmissão usando nicknames com injúrias raciais, na madrugada desta quarta-feira. Preta também sofreu ameaças. Segundo a própria streamer, que é negra e umbandista, os invasores ordenaram que ela gravasse um vídeo no qual ela diminuísse sua raça e sua crença.

Caso o vídeo não fosse publicado, o perfil dela seria enviado na internet para outros grupos semelhantes também promoverem ataques e ainda ameaçaram degolar um gato. As ameaças não ficaram só na Twitch: jogadora de League of Legends, Preta foi intimidada dentro do próprio game no chat privado.

[GATILHO] Eles mandavam coisas desse tipo, desejavam minha morte, falavam que iriam acabar comigo caso eu confrontadse eles. Eu cheguei a levantar da cadeira chorando porque eu nunca tinha passado por esse tipo de situação. E meus seguidores me apoiaram e me fizeram não desistir. pic.twitter.com/sobiMAQy7v

— January 14, 2021

- Quando os ataques começaram, eu não tive reação. Minha cabeça se tornou um turbilhão de coisas e eu só queria sair dali e chorar. Eu cheguei a fazer isso por algum momento. Chorei, me acalmei e voltei pra stream - relatou Preta em conversa exclusiva ao ge.

- Os ataques foram bem mais fundos. Eles falaram da minha religião, falaram da minha cor. Eu ironizei todos eles e continuei minha live. Eu sempre fui aberta na minha stream. Sempre falei sobre minha religião e sobre como algumas pessoas se sentem representadas com uma mulher negra crescendo na plataforma.

Amparada por um de seus seguidores na Twitch, Preta foi encorajada a divulgar sobre os ataques no Twitter. Ela fez as denúncias dentro da própria plataforma, mas não deu conta de incluir todos os usuários nesse processo por serem muitos. Ela não chegou, ainda, a prestar queixa dos crimes virtuais, mas estará providenciando isso.

- Não tomei nenhuma medida legal ainda. A Twitch não se pronunciou, e eu ainda não abri uma denúncia na Riot. Sempre que acontece casos de racismo dentro do LoL, eles costumam me amparar bastante. Não acho que vá ser diferente agora.

O ge entrou em contato com a Twitch para ter um posicionamento sobre os ataques sofridos por Preta, mas, até o momento desta publicação, a assessoria da plataforma de streaming não retornou.

Com a repercussão do caso, muitas pessoas prestaram apoio à Preta nas redes sociais. A Wakanda Streamers, coletivo negro de criadores de conteúdo e que tem como objetivo amparar e integrar toda a comunidade preta, também se solidarizou. Outras figuras importantes do cenário ajudaram, como o caster de LoL Ken Harusame.

- Eles (Wakanda Streamers) não estão fazendo seletivas no momento, mas me prestaram ajuda psicológica e isso é um adianto enorme. Sou muito grata.

- O Ken foi simplesmente maravilhoso. Ele me ajudou a filtrar coisas na minha stream, me ajudou no que fazer sobre o caso e eu sou muito grata a ele.

- Todo mundo tá sendo super acolhedor comigo e eu tô me sentindo super amparada, eu nunca tinha me sentido assim na minha vida. Sou muito grata a todo mundo.

PERMITA QUE EU FALE, NÃO AS MINHAS CICATRIZES

Preta se permitiu a chorar por conta dos ataques, mas não deixou que isso te abatesse. Motivos não faltam para que a carioca de 22 anos, que também é taróloga, continue com suas lives. Mãe de uma filha de dois anos e desempregada, Ana Beatriz vê nos esportes eletrônicos a oportunidade de conseguir gerar renda enquanto sobrevive em meio a pandemia do Covid-19. Seja como streamer ou, seu principal objetivo, como jogadora profissional. Inclusive, ela está em busca de uma organização.

- Eu já tinha planos de fazer stream para que algum time de LoL me visse e quisesse me contratar pra jogar no competitivo. Sempre foi meu sonho, mas nunca tive um PC bom pra isso.

- Foi então que consegui um PC mediano que só roda LoL, e ainda roda lagando um pouco. A meta que eu falo sempre na minha stream é de juntar a grana que eu receber da Twitch e montar um PC bom pra rodar tudo pra gente jogar.

- Meu foco principal hoje em dia é que as pessoas gostem do meu conteúdo, gostem de mim.

Preta, inclusive, aproveita as lives para conciliar seus trabalhos como taróloga.

- Eu sempre quis ser taróloga. Acho lindo quem joga e fiz até curso pra aprender. Meus jogos são ótimos - respondeu em bom tom.

- Decidi investir na carreira de streamer, então conciliei tudo ao mesmo tempo. Meus subs têm direito a uma consulta de Tarot de uma hora comigo. Eu simplesmente amo jogar pras pessoas.

Enquanto trava suas lutas diárias como mulher negra, Ana Beatriz “Preta” só consegue pensar no legado que deixará para sua pequena filha.

- Quero que quando ela fique maior, ela pare numa roda de amigos e fale: "Minha mãe joga LoL e joga cartas. Ela é muito famosa". E sinta orgulho de tudo que eu conquistei pra gente.

Fonte: GE E-Sports