Política

MPF abre investigação contra deputada estadual de SC apoiadora de Bolsonaro por incitar o ódio nas escolas

Foto: Facebook / @CampagnoloAnaAna Caroline Campagnolo foi eleita deputada estadual em SC
Ana Caroline Campagnolo foi eleita deputada estadual em SC

O Ministério Público Federal (MPF) instaurou nesta segunda-feira (29) um inquérito civil para apurar a suposta intimidação feita pela deputada estadual eleita por Santa Catarina Ana Caroline Campagnolo (PSL), de Itajaí, a professores do estado. A investigação deve ocorrer no âmbito de atuação da Procuradoria da República de Chapecó.

A deputada fez uma publicação em redes sociais na noite de domingo (28) oferecendo um contato telefônico para alunos enviarem vídeos de professores em sala de aula que estejam fazendo "manifestações político-partidárias ou ideológicas".

No Instagram, Ana Caroline comentou uma reportagem a respeito do assunto: "Promessa de campanha é dívida!", exclamou. Ao tentar contato com a deputada, que não atendeu as ligações. O advogado dela não retornou.

Inquérito

Na portaria em que informa a abertura do inquérito, o procurador da república em Chapecó Carlos Humberto Prola Júnior recomendou ainda que as universidades e gerências regionais de educação não permitam ações que possam violar o princípio constitucional da educação e do pluralismo de ideias.

Nas redes sociais, a deputada se descreve como professora de história, cristã, antifrágil, antimarxista e antifeminista. Ela também defende a "Escola Sem Partido".

O procurador da república Prola Júnior determinou que a cópia da tela do Facebook com as postagens feitas pela deputada seja anexada ao inquérito. Além disso, determinou que as instituições de ensino superior e gerências de educação da região de Chapecó sejam oficialmente comunicadas sobre a recomendação.

As instituições devem informar eventuais arbitrariedades, como casos de professores que se sintam intimidados quanto ao livre exercício da profissão, conforme a portaria. Se o inquérito não for encerrado em um ano, o prazo deve ser prorrogado.

Devem ser oficialmente informados sobre o inquérito e a recomendação, os reitores das seguintes instituições: Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Jaime Giolo, e UnoChapecó, Cláudio Jacoski.

Também devem receber ofício do MPF com a recomendação, Elaine Alberti, gerente Gerência de Educação de Xanxerê, e Maria de Lurdes Seben, gerente da Gerência de Educação de Chapecó.

Manifestações

Diversos órgãos e entidades repudiaram as declarações da deputada nessa segunda. Em nota, a Secretaria de Estado de Educação afirmou que a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases asseguram a liberdade de ensino e aprendizagem.

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) informou que foi aberto um procedimento para apurar possível violação ao direito à educação dos estudantes.

A Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina (OAB/SC) emitiu uma nota em que repudia a manifestação da deputada.

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Regional São José (Sinte SJ) além de emitir uma nota de repúdio protocolou no início da tarde de segunda uma representação na Promotoria de Justiça da Capital, em que pede 'medidas cabíveis'.

Após o episódio, um abaixo-assinado online criado por professores foi feito para pedir a impugnação da candidata. Até as 22h, já eram mais de 170 mil assinaturas online.

No final da tarde desta segunda um grupo de entidades que representam os trabalhadores em educação de Santa Catarina, também emitiu nota de repúdio.

Foto: Congresso NacionalAna Caroline Campagnolo em sua cadeira na Câmara dos Deputados
Ana Caroline Campagnolo em sua cadeira na Câmara dos Deputados

Início da polêmica

Na publicação deste domingo, Campagnolo diz que "amanhã é o dia em que os professores e doutrinadores estarão inconformados e revoltados". "Muitos deles não conterão sua ira e farão da sala de aula um auditório cativo para suas queixas político partidárias em virtude da vitória de Bolsonaro. Filme ou grave todas as manifestações político-partidárias ou ideológica", diz a imagem.

Na legenda, ela afirma ainda que "professores éticos e competentes não precisam se preocupar". E faz uma ponderação para que vídeos de outros Estados não sejam mais enviados para o seu número, alegando que isso já estava sendo feito na noite de domingo. "Não temos como administrar tantos conteúdos. Alunos que sentirem seu direitos violados podem usar gravadores ou câmeras para registrar os fatos", orienta.

Nos comentários da publicação, Ana Campagnolo sugere que os estudantes "deixem o celular em casa e levem gravador e filmadora mesmo", em resposta a um internauta que questionou se celulares não seriam proibidos em sala de aula. Em outra resposta, reforçou que "é só se comportar direitinho que não precisa ter medo".

Ela também afirmou que as imagens enviadas para o seu celular não serão divulgadas, e sim utilizadas para uma "investigação" e para que sejam verificadas as "medidas cabíveis em cada caso". "Não queremos gravar uma novela, moça", disse para outra internauta.

A aprovação do projeto Escola Sem Partido no Congresso é uma das principais bandeiras de Jair Bolsonaro. O movimento, por sua vez, já foi contestado pela Advocacia-Geral da União (AGU), Ministério Público Federal (MPF) e associação de professores.

Com Informações: G1 / Estadão

Fonte: Redação do PortalRG