Política

Lula diz que Bolsonaro é um "demolidor" que está vendendo o Brasil

Foto: Theo MarquesEx-presidente Luis Inácio Lula da Silva concede entrevista na Polícia Federal, em Curitiba
Ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva concede entrevista na Polícia Federal, em Curitiba

O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva fez diversas críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) em entrevista concedida à emissora portuguesa RTP. Ao fazer um balanço do atual governo, Lula disse que Bolsonaro é um "destruidor" que está "vendendo o Brasil".

"O balanço é negativo. Você não tem um cidadão (no poder) que tenha sido eleito para governar o país pensando na melhoria do Brasil, na melhoria do povo brasileiro. Você tem um cidadão que é um demolidor, um destruidor das coisas da democracia nesse país. É um cidadão que não gosta de cultura, por isso tem que destruir todos os mecanismos que fortalecem a cultura, ele não gosta de liberdade, por isso tem que ter milícia. Ele não gosta de emprego, por isso pede para que seu ministro da fazenda venda tudo", criticou Lula, que acrescentou:

"Eles estão querendo privatizar tudo que você possa imaginar nesse país, inclusive a Petrobras. Sinceramente, não acho que ele esteja governando o Brasil. Ele está dando autorização para vender esse país. Ele vendeu a Embraer, que era a terceira empresa de aviação do mundo, era mais importante que a Bombardier canadense, vendeu pra Boeing. Ele já vendeu muitas empresas, já vendeu a BR, que é a distribuidora do petróleo, agora quer vender a Petrobras, quer vender as empresas de energia."

Lula afirma que o governo Bolsonaro opta por vender as empresas em "benefício de um sistema arrecadatório para pagar juros da dívida pública", e ressalta que o Brasil não tem que se preocupar com a sua dívida pública.

"O Brasil pode até contrair mais dívidas desde que você venha a construir novos ativos que permitam o país voltar a crescer, que permita gerar empregos, que permitam você desenvolver o país."

Momento econômico do Brasil

Lula analisou o atual momento do Brasil e disse crer que a economia voltará a crescer em algum momento independente das medidas tomadas pelo governo Bolsonaro. No entanto, ele ressaltou ser importante avaliar as condições em que o país estará no momento em que a retomada começar.

"A economia pode crescer um pouco. O importante é saber: ela vai crescer a partir de que patamar? Quantas pessoas já foram prejudicadas? Quantas pessoas ficaram pra trás? Quando tem uma seca muito grande, que passa muito tempo sem chover, um dia vai chover. Mas você tem que medir o seguinte: quando começa a chuva, quanto gado já morreu? É importante saber qual é o prejuízo que foi criado ao país depois que esse país voltar a crescer."

O ex-presidente relembrou dados de seu governo e afirmou que, durante a gestão do PT, foram criados 22 milhões de empregos e o país chegou a crescer 7,5% em 2010, apenas dois anos após a crise de 2008. Para Lula, o caminho para retomar o crescimento é melhorar a distribuição de recursos.

"Você não faz o povo se sacrificar pra contentar os ricos. Se tem um jeito de fazer a economia crescer, é você distribuir os recursos arrecadados pelo país. É na distribuição do orçamento que você cuida de que política de desenvolvimento você quer para um país. Se eu tenho um prato de comida e dou pra uma pessoa só, só um vai comer. Agora, se pego e distribuo pra 10 pessoas, eu vou alimentar 10 pessoas."

Democracia em risco e normalização da ditadura militar

Lula também demonstrou preocupação com o atual momento político que o Brasil atravessa. O ex-presidente fez críticas ao modelo de governo adotado por Bolsonaro e afirmou que a democracia brasileira "já está correndo risco".

"O Bolsonaro é muito despreparado politicamente e ele não faz questão de ser diferente. Ele é um cara que acha bonito ser grosseiro, ofender as pessoas, ofender o presidente da França, o presidente da Argentina. Ele acha bonito se meter nas eleições de outros países. Ele dá palpite sobre tudo, menos sobre seu país. Ele deveria estar neste momento preocupado em como gerar empregos neste país, como pagar salários neste país, como fazer a economia voltar a crescer, como fortalecer a educação, como fazer o investimento em ciência e tecnologia, como cuidar do meio ambiente. Tudo isso é tema que não interessa ao Jair Bolsonaro. Ele é um destruidor de obras prontas, e acho que é um destruidor da democracia."

Outro ponto repudiado por Lula é a tentativa de normalizar a ditadura militar no Brasil que é feita por Bolsonaro e alguns de seus aliados e seguidores. O ex-presidente classifica a questão como "uma das coisas mais graves que acontece no Brasil".

"Ele e um tipo de gente que o apoia querem mostrar para a sociedade que não houve ditadura militar no Brasil. Querem mostrar que não houve censura, que não houve tortura, que não houve crime, que os bandidos na verdade não existiram. É isso que eles querem mostrar. E com uma virulência de discurso muito forte, e com a prática de combate ao crime a base da milícia. Hoje, quem mata muito nesse país é a polícia, e sobretudo, os jovens pretos da periferia. Nesse ano, já mataram cinco crianças de bala perdida da polícia", criticou Lula.

Fonte: UOL