Oscar D'Ambrosio
Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.
Limites da realidade
Um dos grandes riscos de biografias cinematográficas é cair na caricatura. Tentar imitar a realidade geralmente é uma armadilha da qual é difícil se libertar. Por isso, filmes como 'Neruda', do chileno Pablo Larraín, funciona como uma oxigenação do gênero. Se a vida está ali, a maneira de contá-la assume-se como ficcional.
O mote é a perseguição que o poeta e senador Pablo Neruda sofre por integrar o Partido Comunista. Um inspetor tem a função de prendê-lo e evitar que saia do país. Como se sabe, ele consegue fugir para a Argentina e, depois vai para a França. O protagonismo, no entanto, recai sobre o seu perseguidor, o inspetor Oscar.
A caçada do policial ao escritor torna-se uma espécie de metáfora do diálogo nem sempre fácil entre a política e a arte. Se esta última costuma atingir a imortalidade, talvez se deva a uma transcendência que aquela não consegue atingir, dominada pelas ações imediatas voltadas para a obtenção do poder terreno.
Nesse aspecto, o filme traz um pensar sobre a temporalidade dos regimes políticos e a perenidade das palavras e das imagens. A eternidade de um poema ou de um quadro superam os regimes mais autoritários. É a universalidade que torna certos momentos da arte irresistivelmente terna e eterna.
Oscar D'Ambrosio, Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.