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Oscar D'Ambrosio
Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.

Dores da arte

Quando um dos maiores cineastas poloneses, Andrzej Wajda, se debruça sobre um dos principais artistas plásticos daquele país, Wladyslaw Strzeminski, o resultado não poderia decepcionar. O filme Afterimage, indicado pelo país para Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, reúne boa parte das questões que a arte de todos os tempos engloba.

A obra conta a trajetória de um criador que é referência na arte construtivista polonesa. Sem uma perna e um braço, perdidos na Primeira Guerra, ele desenvolveu não só um movimento artístico, mas uma teoria do olhar e da recepção. Professor respeitado, perdeu o cargo, o espaço nos museus e a o direito ao trabalho por ser contra o regime stalinista.

Num regime que valoriza o realismo socialista na arte, não ser figurativo era um crime. E Strzeminski foi perdendo tudo. Manteve-se, porém, fiel a si mesmo. Essa convicção o manteve vivo numa sociedade que não lhe permitia sequer comprar materiais de pintura, quanto mais publicar suas ideias sobre estética.

A arte desse marcante artista polonês sobreviveu, mas sua existência, principalmente nos anos finais da vida, mostra do que é capaz a intolerância política e artística. Desobedecer ao sistema quase o levou a ser apagado da história. Wajda, em seu último filme, presta essa homenagem pungente a um ícone da arte de qualquer país e época.

Oscar D'Ambrosio, Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.